Quando eu era criança sonhava. Sonhava com este mundo e todos os outros. Não no sentido de posse, mas tão só de descoberta. E descobri o que havia para descobrir nessa idade em que temos sempre resposta pronta, em que um “não” significa o fim do mundo, em que um castigo nos fazia tão ingenuamente pensar “vou fugir de casa”.
Quando eu era criança tinha pai e mãe que cuidavam, educavam, que ajudavam a crescer de forma preparada para uma vida que se avizinhava, ainda que incógnita e enigmática.
Hoje à distância vejo que tive uma infância plena, apenas com as minhas cândidas preocupações típicas da meninice. As vezes que chorei terão sido quase sempre por uma dor física, por uma birra ou por não me terem comprado o tal “comboio” que eu sempre quis.
Nunca me doeu o coração. Nunca senti a alma ferida por atitudes errantes dos que me estavam próximo. Para muitos de nós, estas são dores que descobrimos ao entrar na idade adulta e apesar da força dos anos, sabemos o quão difícil é carrega-las.
Eu que ás vezes me julgo de sentimento duro, de coração forte que não cede facilmente, de lágrima quase impossível, não resisti ao circo indomável, em que se transformou a vida de Alexandra. Uma inocência perdida antes de tempo e uma infância infernizada por adultos inconsequentes. Os sonhos desta menina desenham apenas uma vontade de ser gostada; os sonhos desta menina são pesadelos criados por adultos que actuam em palcos decadentes e ruinosos. E há muitas Alexandras que não conhecemos; e haverá sempre. Que os holofote caídos inesperadamente na sua vida, sirvam pelo menos para reparar o seu futuro e diminuir a carga de um passado penosamente escrito.
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