Resolvi parar. Levar à prática quase todas definições de estática, para parar e ver… só ver. Num sítio em que o sol comparece entrecortado pelos perenes ramos de árvores onde folhas de vida já se anunciam. Parei, respirei, olhei, escutei.
A cidade está transformada num estaleiro; há barreiras em quase todos os circuitos, pedras fora de espaço, homens de mangas arregaçadas e boné na cabeça. O ar não está limpo; ainda se respira uma amalgama de essência queimada, que aqui chega de paragens vizinhas, onde o fogo rasteou. Num rádio em fundo, uma mulher e um homem, fazem conversa de um livro que este escreveu, sobre a cilada que a vida lhe preparou há 16 anos; a morte, roubou-lhe da vida, a mulher e as filhas.
Enquanto passa a conversa, há pessoas a passarem por mim; são apenas corpos que deambulam, que pisam a calçada sem se lembrar, que cruzam com outros sem notar. Dois velhos falam sobre a idade; com a vida feita, não querem a morte à espreita, apenas o orgulhoso brio de ter 82 anos, os filhos criados e netos encaminhados. “Somos de bom tempo” comentavam entre si. E volto a ouvir a presença omnipresente do receptor, que desta vez narra as preocupações de um ministro por causa de uma fábrica no norte…É há pessoas a passar de forma abstraída, quase imaterial. Há carros a buzinar, uma discussão que vem de longe e pouca paciência para aturar.
As pedras continuam lá, as árvores também; as pombas não mudaram de lugar prontas a poisar nos que a míngua lhes vão disfarçando Tudo o resto, parece fora de lugar, como se a alma tivesse migrado, como se o senso se transformasse em incomum verdade dos dias que evaporam.
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