quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Desamor

São 21.30. A hora precisa em que começo a escrever este post. Se tivesse silêncio à minha volta, talvez a escrita que me escorre até à ponta dos dedos, fosse outra. Há um burburinho que vem do andar de baixo, porque na TV 22 rapazes correm atrás de uma bola e há milhares de adeptos em euforia; acho que são holandeses e nem o frio lhes enrouquece as gargantas. De resto não há mais ruído produzido dentro destes muros que me resguardam do frio que faz lá fora.
A parede que está nas minhas costas é a fronteira com a casa do lado, onde três pessoas, levam a vida como quem carrega ás costas, um fardo de chumbo, que de dia para dia, tem mais e mais peso. Duas mulheres e um homem.
Três vidas a caminho de um entardecer inquieto e tristemente tempestuoso.
A qualidade dos materiais de construção civil, deve deixar muito a desejar já que involuntariamente sou obrigada a perscrutar os Invernos que mesmo durante o Verão se vivem aqui ao lado. A felicidade não mora decididamente ali. Ou então sou eu que estou desfasada dos conceitos e por essa razão, tenha uma visão distorcida da realidade. Tem dias que é assim. De manhã à noite. Agora falas tu, agora falo eu e a coisa piora quando falam todos aos mesmo tempo e as paredes deixam de ser o suporte de privacidade que deveriam ser. Para eles e para mim.
Estas pessoas sabem que há uma formula para resolver o problema, mas segui-la traria outros enigmas e dúvidas á sua condição de viver. Por isso eternizam-se. Não vivem, só duram até ao dia que o efémero da existência lhes bata à porta. O amor não mora ali; foi substituído por sentimentos de posse, superioridade e de humilhação velada ao elo mais fraco. É assim lá dentro. Lá fora, quem com eles se cruza, dirá que são pessoas de estatuto, que vivem bem e que devem ser felizes.
A aparência continua a ser uma capa impermeável que resguarda um conteúdo triste, tristemente pesado.
Devia ser proibido viver assim. Devia haver uma espécie de entidade reguladora do amor para intervir em caso de ruptura. Mas não há e nunca vai haver. Por isso, quando se cruzarem na rua com alguém, pensem muitas vezes antes de julgarem pela aparência. Quase sempre, tudo não é, o que parece.

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